A atribuição do galardão "Fóssil do Dia" é uma cerimónia diária cheia de entusiasmo e glamour onde as organizações não governamentais de ambiente e desenvolvimento da Rede Internacional de Acção Climática (CAN, na sigla em inglês) distinguem os países com pior comportamento negocial na Conferência.
Ontem, o primeiro lugar coube aos Estados Unidos, o maior emissor de gases com efeito de estufa e que menos compromissos tem assumido para manter o aquecimento global abaixo dos 2º. Seguiu-se o segundo lugar para o Japão, o Canadá e a Rússia, países que anunciaram a rejeição do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto. E por último, em terceiro, a Nova Zelândia, por ter tornado menos clara a sua posição até agora favorável à continuação do Protocolo de Quioto.
Mas nem tudo são fósseis! O grupo de países africanos recebeu o "Raio do Dia" pelo seu desempenho pro-activo e progressista, nomeadamente na apresentação de um conjunto de propostas que poderão contribuir para desbloquear as negociações em Durban.
A campanha 350.org apela à pressão sobre os Estados Unidos da América quando faltam menos de 48 horas para o fim das negociações climáticas a decorrer na África do Sul. "E se alguém dissesse que você deve perder toda a sua esperança numa acção climática global até 2020? Bom, é exatamente essa a proposta que os Estados Unidos e outros países estão a fazer em Durban. Atrasar um acordo até 2020 é a pior ideia que já tiveram", lê-se num apelo internacional.
"Esperar nove anos por acções de combate às mudanças climáticas não é somente atrasar o processo, é uma sentença de morte para as comunidades que estão na linha de frente da crise climática – e pode acabar com a possibilidade de conseguirmos diminuir os níveis de carbono à concentração segura de 350 partes por milhão" [limite que dá o nome à campanha]. Por isso, activistas da 350.org e da Avaaz prometem não desistir nas próximas horas e apelam à participação de todos.
Clique aqui para juntar a sua voz a este apelo global: www.350.org/pt/durban2011. Cada mensagem será entregue diretamente à equipa de negociadores dos Estados Unidos num evento planeado para amanhã. Participe!
Em cima da mesa dos Ministros estão quatro opções. A Opção 1 assume a continuação de Quioto e o desenvolvimento de um protocolo ou instrumento juridicamente vinculativo no quadro da Convenção com base no Plano de Acção de Bali e dos Acordos de Canún, com negociações a partir de 2012 e a ser concretizado até 2015. No outro extremo, a opção 4 é não fazer nada. Mas as opções 2 e 3 também não servem aquilo que o clima exige – baseiam-se em mais diálogo e decisões eventuais tardias.
No entanto, os EUA, a Índia e China opõem-se a esta opção 1. Como é assim possível compatibilizar o amor da Índia e da China ao Protocolo de Quioto e sua devoção a um segundo compromisso período, com esta rejeição?
Há muito tempo que os ambientalistas defendem um profundo respeito por um sistema baseado em responsabilidades comuns mas diferenciadas e respectivas capacidades. Se as Partes querem levar realmente a um segundo período de compromisso de Quioto devem também construtivamente envolver-se para garantir um mandato em Durban, que construa um acordo global.
Entretanto há já uma nova versão de um dos textos fundamentais, o do chamado Grupo de Trabalho Ad-hoc de Cooepração de Longo Prazo (AWG-LCA) (http://unfccc.int/resource/docs/2011/awglca14/eng/crp38.pdf)
Fonte: UK Youth Climate Coalition
© IISD
Muitos esperavam que o presidente Barack Obama seria uma lufada de ar fresco na disposição americana de lidar com o consenso da ciência sobre o clima global. A ciência diz que a mudança climática está a acontecer devido à actividade humana, e que é urgente minorar o problema. Ontem, na sua primeira conferência de imprensa em Durban (ver vídeo), o enviado especial adjunto dos EUA, Jonathan Pershing, revelou o estado de negação do seu país sobre a ciência das alterações climáticas.
Pershing é ele próprio um cientista, esteve envolvido com o IPCC, mas afirmou reiteradamente que as actuais metas de mitigação colectivas são suficientes para evitar ir que a temperatura suba mais de 2 graus em relação à era pré-industrial. A sua mensagem geral foi a de que os EUA mantêm a sua posição de que evitar o aquecimento global não é urgente o suficiente para gastar capital político em compromissos na UNFCCC. A reduzida prioridade dos EUA para os compromissos climáticos globais começou com a fraca meta de redução, sendo que os EUA também continuarão a não concordar num instrumento juridicamente vinculativo.
A meta dos EUA de 17% abaixo dos níveis de 2005 até 2020 é tão fraca que tudo indica já terá sido cumprida, mesmo sem políticas climáticas globais, devido à recessão e aumento do custo relativo da produção de electricidade recorrendo a carvão. Ao afirmar que os EUA só estão realmente preocupados com os compromissos pós-2020, os negociadores do governo Obama estão a dizer que o seu chefe não precisa lidar com esta questão, já que Obama não estará no cargo após 2016 (assumindo que ele ganha mais um mandato de quatro anos).
Na sua campanha de 2008, o presidente Barack Obama prometeu ser um líder na mudança da política das alterações climáticas. Porém, as expectativas já caíram tão baixo que aquilo que se pode pedir é pelo menos para que os EUA concordem nalguns passos razoáveis na frente negocial - por exemplo, na aprovação de um mandato de um pacote de compromissos para um acordo legalmente vinculativo em 2015. Isso daria ao mundo mais quatro anos, além do Plano de Acção de Bali, aprovado pelo governo Bush, que deu ao mundo dois. O clima não pode esperar. O mundo certamente não pode ser arrastado para baixo por um outro governo dos EUA em negação.
Outras notícias:
- Apesar de não haver ainda qualquer fumo, branco ou negro, neste conferência de Durban, será num país dominado pelo petróleo, o Qatar, mas precisamente em Doha, que terá lugar a próxima reunião da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas daqui a aproximadamente um ano.
- A Europa é a favor da continuação do Protocolo de Quioto, mas um elemento decisivo é saber se a sua extensão deverá ser por 5 anos, colocando assim pressão para a entrada em vigor de um acordo global, ou por 8 anos, como inicialmente estava programado. Sexta-feira, delegações e Comissária Europeia vão conversar sobre o assunto e espera-se que vença a perspectiva mais curta e pragmática.
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Outubro 2011